Archive for março, 2010

Lula: O Brasil no Oriente Médio

sábado, março 13th, 2010

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O Brasil hoje é chamado a atuar internacionalmente

Para compreender a importância da agenda internacional do Brasil e a ação de nossa política externa no conflito entre Israel e Palestina, trago aqui três reportagens sobre a viagem do presidente Luís Inácio Lula da Silva ao Oriente Médio.

A viagem marca a presença da política externa  brasileira no conflito de maior destaque mundial. O Brasil com Lula empenha-se para imprimir uma agenda de diálogo e negociação justa no mundo. Para isso atua em diversas frentes no intuito de colocar ‘na mesma mesa‘ Israel e a Palestina (ou o mundo Islâmico). Para isso o presidente brasileiro usa do comércio, política e até mesmo do esporte.

O Brasil amplia sua presença comercial e cultural na comunidade  internacional enquanto na política trabalha para garantir assento fixo no Conselho de Segurança da ONU.

As reportagens a seguir foram extraídas da agência francesa EFE, da inglesa BBC e da Al-Jazeera, do Qatar.

Lula defenderá criação de Estado palestino em visita a Israel, diz porta-voz

da Efe, em Brasília | 11/03/2010 – 20h24

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmará na próxima segunda-feira (15), durante viagem a Israel, sua posição a favor do diálogo com o Irã e da criação de um Estado palestino, informou nesta quinta-feira seu porta-voz, Marcelo Baumbach.

Lula chegará no domingo à noite a Jerusalém, primeira escala de uma viagem que também inclui visita aos territórios palestinos e à Jordânia. Ele deve oferecer novamente a ajuda do Brasil nos esforços por diálogo de paz no Oriente Médio.

O porta-voz declarou que a viagem de Lula coroará “o processo de aproximação com o Oriente Médio” iniciado pelo Brasil há mais de cinco anos com o objetivo de se transformar em “um agente” nas negociações para a pacificação da região.

Segundo Baumbach, Lula também expressará as críticas do Brasil à intenção de Israel de expandir seus assentamentos em Jerusalém Oriental, anunciada nesta quarta-feira e imediatamente condenada pela comunidade internacional.

Na segunda-feira, em Jerusalém, Lula se encontrará com o presidente israelense, Shimon Peres, receberá políticos da oposição e personalidades da sociedade civil.

Ele também deverá participar de uma sessão especial do Parlamento e se reunir com o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu.

Na terça-feira, Lula visitará o Museu do Holocausto, plantará uma árvore no Bosque de Jerusalém e conhecerá a Universidade Hebraica, para depois seguir rumo a Belém, onde será recebido pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.

Abbas anunciou que desistiu de iniciar negociações indiretas com Israel, depois do anúncio israelense da construção de mais 1.600 casas em Ramat Shlomo, bairro de colonização habitado por judeus ultraortodoxos na área oriental de Jerusalém, que tem população majoritária de árabes e foi anexado por Israel em 1967.

No dia seguinte, o presidente irá a Ramala, onde conhecerá uma escola que funciona com cooperação do Brasil, e colocará uma oferenda de flores no mausoléu de Yasser Arafat, em companhia de Abbas.

Em suas reuniões com o presidente da ANP, Lula aproveitará para discutir os preparativos para a primeira Conferência Econômica da Diáspora Palestina, que será realizada no Brasil em julho deste ano.

Jordânia

De Ramala, Lula viajará para Amã, onde na própria quarta-feira será recebido pelo rei da Jordânia, Abdullah 2º, a quem considera um “interlocutor privilegiado” no conflito do Oriente Médio, disse Baumbach.

Na quinta-feira, antes de retornar ao Brasil, Lula se reunirá com o primeiro-ministro jordaniano, Samir Rifai, e assistirá ao encerramento de um encontro de empresários de ambos os países.

O porta-voz explicou que Lula também tinha a intenção de fazer uma visita à cidade histórica de Petra, mas cancelou os planos por questões de agenda e segurança.

Fonte:  EFE \ Folha

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Lula urges Israel settlement freeze

By Gabriel Elizondo in  on November 16th, 2009 | Al-Jazeera

Abbas e Lula

Palestine Leader, Abbas and brazilian president Lula da Silva

Abbas, left, urged Silva, right, to play a greater role in Israeli-Palestinian peace efforts [REUTERS]

Brazil’s president has called for an immediate end to Israeli settlement construction on Palestinian territory, following a meeting with his visiting Palestinian counterpart.

Luiz Inacio Lula da Silva made the comment on Friday in the north eastern city of Salvador after talks with Mahmoud Abbas, who is in Brazil on his first stop of a tour through Latin America.

“The expansion of West Bank settlements must be frozen,” Lula said.

“The borders of the future Palestinian state should be preserved, and freedom of movement needs to be guaranteed in the occupied territories.”

Stalled peace efforts

Israel approved the construction of 900 housing units in occupied East Jerusalem earlier this week, calling it part of a “routine building programme”.

The Palestinians say the settlement issue is central to efforts to restart stalled peace talks, and it has demanded that all construction is halted before they resume talks.

The Brazilian president pledged on Friday to help Abbas re-launch the stalled talks, saying the peace process would “benefit from the contribution of countries other than those traditionally involved” in negotiation efforts.

“From the smallest country in the world to the world’s largest country, among their priorities should be peace negotiations in the Middle East,” he said.

Abbas said he appreciated Brazil’s efforts to get involved in the process, but urged Lula to play a greater role in international peace efforts.

“With respect to you, President Lula, we would like you to have a role, and you’re ready for it,” Abbas said.

“We want you to play a role, which you have welcomed, and we welcome you playing a role like this, because we need you and your support and help.”

Abbas is also scheduled to travel to Argentina and Chile during his tour of the region.

Brazil as Middle East peace broker?

By Gabriel Elizondo in  on November 16th, 2009 | Al-Jazeera

Photo by Reuters

There are some interesting diplomatic dynamics from Brazil in relation to the Middle East, the Israeli-Palestinian conflict, and relations between Iran and the United States.

Consider these travel schedules:

ISRAEL: President Shimon Peres visited Brazil last week – Nov. 10 through 15 – making stops in Brasilia, Sao Paulo and Rio de Janeiro. Peres’ visit marked the first time an Israeli head of state visited Brazil since Zalman Shazar did so in July 1966. (The visit barely registered on international radar screens, or in Brazil for that matter, as on Peres’ first night in Brazil the country saw a nationwide power outage that cut electricity to nearly 90 million people.)

Nevertheless, Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva met with Peres in Brasila. Afterwards the foreign ministry sent out a press release trumpeting the fact both countries signed a cinematography co-production agreement.

Not exactly the stuff of dramatic ‘war versus peace’ diplomacy. But Peres and Lula likely talked about a lot more than Hollywood or Bollywood. They presumably spoke about Brazil’s potential role in peace in the Middle East.

“I understand (President Lula) introduced a program called ‘Lights for All.’…Therefore, Mr. President, come and turn on the lights in the Middle East.” – Israel’s President Shimon Peres addressing  his Brazilian counterpart, Luiz Inacio Lula da Silva, during a joint press conference in Brazil.

PALESTINIAN AUTHORITY: Palestinian President Mahmoud Abbas is coming to Brazil to meet with Lula in the Brazilian city of Salvador this Friday (Nov 20).

And two days later…

IRAN: Iran’s President Mahmoud Ahmadinejad lands in Brazil for meetings with Lula on 23 of November.

This means that in the span of 13 days Peres, Abbas, and Ahmadinejad will have all come to Brazil to meet with Lula.

Let me say that again: Peres. Abbas. Ahmadinejad. All coming to Brazil in the span of about 2 weeks to meet with Lula. It strikes me as incredible on so many levels. So let’s take a closer look at what’s going on here.

Brazil as intermediary? The headline in Sunday’s O Estado de S. Paulo newspaper read “Brazil intends to intermediate dialogue between Tehran and Washington.” That might say it all.

Brazil appears to possibly want to actively offer itself up as a diplomatic intermediary, triangulating between Israel, the Palestinians and Iran. That is a big job, usually reserved for the heavyweights of the diplomatic world. And Tel Aviv, Tehran and Ramallah might as well be on another planet when it comes to Brazil’s traditional sphere of diplomatic influence. Maybe not anymore.

Something in the works? Nobody is pretending the recent talks were, or plan to be, particularly substantive (nothing against the fine folks who probably worked very hard to put together that cinematography co-production agreement). Nobody is suggesting there was or will be any immediate, official, and binding mediation going on here between anybody.

But my hunch is that all parties involved are looking each other up and down to assess if Brazil can be trusted as a possible go-between on issues big or small. And perhaps, maybe, Lula will use all these meetings as an opportunity to answer the question if he wants to get himself deeply involved.

The Obama factor? There is strong speculation in Brazil that Obama’s first trip to South America as president will be to Brazil. And there is little doubt Obama looks to Brazil as the rising power that it rightfully has become.

The U.S. president has nominated the State Department’s top Latin America diplomat, Thomas Shannon, to become the American ambassador to Brazil. It was a move that reportedly thrilled Lula and the Brazilian diplomatic corp as a sign that Brazil was #1 on Obama’s South America agenda. And between Obama and Lula, there seems to be strong personal and genuine admiration between the two men.

So when Peres, Abbas and Ahmadinejad talk to Lula, they know they are speaking to a man who can call the White House and probably have the President pick up the phone in a hurry.

What’s it all mean? There are a lot of diplomatic undercurrents swirling right below the surface. Given all the above, you can connect the dots anyway you wish and come up with your own conclusions. But Brazil is, at minimum, expanding the sphere of countries it engages diplomatically, and maybe even going much, much further and jumping into a whole new realm of diplomacy as the Switzerland of South America.

Easy for Brazil when it comes to places like Honduras. But when it comes to the Middle East and U.S.-Iran relations, well, this isn’t Tegucigalpa folks. Is this the right strategy for Brazil and could it work? Or is it a futile effort from a country like Brazil – entering the heavyweight fighting class of Middle East diplomacy and now punching above its weight class?

Fonte: Al-Jazeera

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Palestinos elogiam decisão de Lula de pernoitar em Belém

O Muro de Belém

Para palestinos, em Belém Lula poderá ver muro que os separa de Israel

Palestinos ouvidos pela BBC Brasil nesta quarta-feira elogiaram a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de passar uma noite na cidade de Belém, na Cisjordânia, durante sua visita ao Oriente Médio, prevista para ter inicio no dia 14 deste mês.

A decisão do presidente brasileiro de não seguir o protocolo habitual de chefes de Estado, que quando visitam o Oriente Médio costumam pernoitar em hotéis em Jerusalém e visitam os territórios palestinos por apenas algumas horas, é vista pelos palestinos como um “gesto de solidariedade”.

De acordo com o deputado Faez Saqqa, ex-representante da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) na América Latina e um dos líderes do partido Fatah, a liderança palestina quer mostrar a Lula a vida “sob a ocupação israelense”.

“Em Belém, Lula poderá ver de perto o muro que Israel construiu na Cisjordânia, que divide a cidade em duas partes. Ele também poderá observar, da janela do hotel onde ficará hospedado, os campos de refugiados palestinos e os assentamentos israelenses”, disse Saqqa, que participa da organização da agenda da visita.

Divisão simétrica

O fato de Lula ter optado por passar um dia e meio em Israel e um dia e meio na Cisjordânia está sendo interpretado pelos palestinos como um sinal de que o Brasil poderia vir a ser um “mediador honesto” na resolução do conflito.

Já do ponto de vista de Israel, a visita de Lula será “um pouco curta”.

“Visitas de chefes de Estado do nível do presidente Lula geralmente têm a duração de três dias”, disse à BBC Brasil a embaixadora Dorit Shavit, diretora do departamento de América Latina do ministério das Relações Exteriores de Israel.

“A decisão do presidente Lula de pernoitar em Belém não nos surpreende, pois em seu discurso ele sempre cria a simetria”, acrescentou a embaixadora israelense.

Shavit disse ainda que o país “está muito contente com a perspectiva da visita, pois está ciente da importância do Brasil e tem interesse de estreitar as relações entre os dois países”.

Segundo as autoridades israelenses, os compromissos do presidente brasileiro durante o dia e meio que ele vai passar em Israel ainda não estão totalmente definidos e, em vista do tempo curto da visita, provavelmente alguns dos planos originais terão que ser cancelados.

Ocupação

Do lado palestino, a agenda de Lula parece já estar acertada.

Em vez de se reunir com o presidente brasileiro em Ramallah, onde fica a sede da Autoridade Palestina, como é feito habitualmente, o presidente palestino Mahmoud Abbas decidiu que as reuniões politicas serão realizadas na cidade de Belém.

Segundo o deputado Faez Saqqa, a razão da decisão é mostrar ao presidente Lula “como é a vida dos palestinos sob a ocupação israelense”.

Saqqa também disse que o povo palestino “aprecia altamente o papel do presidente Lula e sua visão sobre o conflito no Oriente Médio”.

“A decisão do presidente Lula de pernoitar em Belém é um sinal de sua solidariedade evidente com a causa palestina”, acrescentou.

Integrantes do departamento de negociações da OLP, que pediram para não ter seus nomes identificados, também afirmaram ver como positiva a presença de Lula em Belém.

“O próprio fato de que o presidente brasileiro irá pernoitar em uma cidade palestina passa uma mensagem muito forte para o mundo, de que apesar de todas as nossas dificuldades decorrentes da ocupação israelense somos capazes de receber uma visita desse nível”, disse um integrante do departamento à BBC Brasil.

O funcionário também disse esperar que a visita de Lula a Belém incentive turistas estrangeiros a visitar a cidade, “pois demonstrará que Belém é um lugar seguro”.

Fonte: BBC Brasil

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Jobim critica interferência norte-americana na relação entre Brasil e Irã

segunda-feira, março 8th, 2010

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introdução por Nazen Carneiro

A relação diplomática do Estado Brasileriro com outros Países não pode sofrer intereferências de estados terceiros. Durante recente visita da secretária de estado norte0americana, Hillary Clinton, ao Brasil, como parte de um ‘circuito‘ de visitas a países sulamericanos, a mesma advertiu o Brasil sobre seu papel na negociação do programa nuclear iraniano.

Jobim critica interferência norte-americana na relação entre Brasil e Irã

Kennedy Alencar é repórter especial da Folha Online

Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, o ministro Nelson Jobim (Defesa) afirmou que o Brasil não pode deixar “que outros países digam quem são seus interlocutores”. A frase, dita no programa “É Notícia”, da RedeTV!, foi dada em resposta à recente declaração da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que disse que o Irã está enganando os que acreditam em acordo para o uso da energia nuclear para fins pacíficos –incluindo o Brasil.

Hillary veio ao Brasil na última quarta-feira (3) com a missão de pedir ao governo brasileiro que apoie o endurecimento das sanções contra o Irã, para tentar forçá-lo a manter o programa nuclear nos limite do uso pacífico. No mesmo dia, porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia afirmado não ser prudente “encostar o Irã na parede”, mas sim investir no diálogo para resolver o impasse sobre o programa nuclear de Teerã.

Imprensa prepara campanha contra candidatura de Dilma Roussef – PT

quarta-feira, março 3rd, 2010

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Imprensa prepara campanha contra candidatura de Dilma Roussef – PT

de Bia Barbosa para o site Carta Maior

Em seminário promovido pelo Instituto Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o stalinismo será implantado no Brasil. “Então tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação. Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois”, sentenciou Arnaldo Jabor.

Se algum estudante ou profissional de comunicação desavisado pagou os R$ 500,00 que custavam a inscrição do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, acreditando que os debates no evento girariam em torno das reais ameaças a esses direitos fundamentais, pode ter se surpreendido com a verdadeira aula sobre como organizar uma campanha política que foi dada pelos representantes dos grandes veículos de comunicação nesta segunda-feira, em São Paulo.

Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.

A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.

“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.

A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.

“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.

O tal ataque
Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.

“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.

“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.

O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.

Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.

“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (…) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (…) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.

O “risco Dilma”
Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.

“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.

Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.

Hora de reagir
E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.
“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.

“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.

“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.

Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira.

Fotos:  Bia Barbosa

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