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André Singer, ex-porta voz da Presidência da República do Brasil, em breve entrevista ao jornal Folha de São Paulo critica o pragmatismo da política de alianças do Partido dos Trabalhadores para as eleições de 2010 e defende alianças baseadas em proximidade ideológica e programática para emplacar a continuidade do projeto petista para o Brasil.
PT deve dizer “não” a PMDB, afirma Singer
21/02/2010 – 08h04 | De: Ana Flor, da Folha de S.Paulo
Num momento em que a simples menção ao PMDB no documento petista sobre políticas de alianças provocou intenso debate no congresso do partido que terminou ontem –e que resolveu não citar a sigla como principal aliada na campanha–, o cientista político André Singer vai além: defende que o PT tenha coragem de dizer “não” ao PMDB.
Singer, que foi secretário de Imprensa e porta-voz da Presidência no primeiro mandato de Lula, afirma que o “baixo teor programático do PMDB é danoso para o sistema partidário brasileiro” e que o PT ganharia mais se desse preferência a uma aliança com o PSB.
FOLHA – O PT ainda é um partido de massas e de trabalhadores?
ANDRÉ SINGER – Continua sendo, mas já com as mudanças que eram previsíveis, de acordo com a trajetória dos grandes partidos socialistas das democracias ocidentais. O PT teve uma trajetória de sucesso eleitoral relativamente rápida. Isso faz com que o peso no partido dos que têm mandato comece a crescer. Essa trajetória faz com que o grau de participação, a chamada militância, vá diminuindo ao longo do tempo. Não é mais a militância da primeira década.
FOLHA – O que fez a influência de Lula crescer tanto no partido?
SINGER – O principal fator é o que eu tenho chamado de lulismo. É um fenômeno novo. Não é o resultado, ao meu ver, de um realinhamento eleitoral. A base social que elegeu Lula em 2006 é diferente da que o elegeu em 2002. Essa nova base social são os eleitores de baixíssima renda, foram o resultado de políticas de governo do primeiro mandato. Esse primeiro mandato significou uma mudança tão importante na estrutura eleitoral do país que deu ao presidente uma base que é relativamente autônoma do partido.
FOLHA – É uma base diferente daquela que sustenta o PT?
SINGER – O PT tem uma base eleitoral ampla, mas é uma base historicamente de classe média. O lulismo trouxe essa novidade de estar ancorado nessa base de baixo. Isso faz com que a adesão seja mais a uma figura que tem grande visibilidade do que a uma instituição, a um partido. Eu acho que é possível que haja uma convergência entre essa base social e o PT.
FOLHA – Se essa adesão ao projeto se confirmar, garantiria, então, a eleição da escolhida do presidente?
SINGER – É a minha percepção. É mais uma adesão de projeto do que carismática.
FOLHA – Quais os efeitos, para o PT, de uma aliança com o PMDB?
SINGER – O PMDB tem se caracterizado por ser um partido de baixo teor programático, o que é danoso para o sistema partidário brasileiro. Faz com que a política fique parecendo algo que diz respeito aos interesses dos políticos.
FOLHA – Então é ruim para o PT?
SINGER – A opção preferencial pelo PMDB fortalece esse aspecto negativo. Ela é compreensível do ponto de vista pragmático. Na minha opinião, o PT deveria arcar com um certo risco de procurar primeiro os partidos que estão mais próximos a ele no campo de esquerda e de centro-esquerda. No caso, o PSB, que tem como pré-candidato Ciro Gomes. O PSB ainda é um partido ideologicamente mais próximo do PT. Eu também poderia me referir ao PDT, ao PC do B. O PT deveria retomar uma prática de que suas alianças fossem orientadas pelo programa.
FOLHA – O PT decidiu não correr o risco por ter uma candidata eleitoralmente fraca?
SINGER – Eu acho que o problema é de outra natureza. Acho que o pragmatismo é uma força extraordinária em partidos eleitorais. Todo partido tende a ser fortemente pragmático.
FOLHA – Mas se o candidato fosse alguém mais conhecido do eleitor, seria diferente?
SINGER – Eu não sei. Uma vez estabelecidos os critérios pragmáticos, como o tempo na TV e essa relativa capilaridade eleitoral [do PMDB], sempre será um elemento fortemente levado em consideração. O que está em jogo é pragmatismo versus opção programática.
FOLHA – O fato de Lula ter escolhido a candidata enfraquece o PT?
SINGER – Essa é uma condição que está relacionada com a grande influência de uma liderança carismática, que tem os votos. Sem dúvida, ela significa que o partido é fortemente influenciado por essa liderança.
FOLHA – O lulismo pode engolir o PT?
SINGER – A questão se vai haver essa convergência ou não vai depender de em que medida esses eleitores que a meu ver aderiram ao lulismo irão pouco a pouco votar no PT. Nas eleições de 2006 os estudos mostram que isso não aconteceu. A base social do PT continua sendo a base social tradicional, mais forte no Sudeste e no Sul do que no interior do Norte e Nordeste. Dá para ver essa diferença entre lulismo e petismo.