Jerusalém Contemporânea – A Mancha Pós-Segunda Guerra

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Peacetalks > Mais uma vez Israel e a Autoridade Nacional Palestina – ANP – discutem diretamente a paz na região.  A negociação de paz foi tema de um jantar oferecido por Barack Obama na Casa Branca, ontem dois de setembro.

As negociações culminam com o fim do Ramadan – mês sagrado na religião muçulmana – e o “Dia internacional de Jerusalém“, cidade no centro da disputa.

Também ao mesmo tempo, os palestinos lançam desafio a Israel com campanha na mídia: “Somos ‘parceiros’ na busca da paz, e vocês (Israel)?”.

A verdade é que a maioria da opinião pública israelense quer a paz pela via da submissão dos palestinos, não pela parceria o que, com certeza, enfraquece o diálogo nas questões mais delicadas de um processo todo muitíssimo delicado.

Assim trago ao blog Conexões da Mudança dois textos sobre o tema: Um do economista Adnan A. El Sayed e outro do premiado jornalista Clóvis Rossi, repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo.

Recomendo também o filme chileno “La bella Luna” que mostra a realidade de dois amigos: um judeu e um palestino, vivendo na Palestina durante a primeira guerra mundial, antes da criação do estado de Israel.

* Nazen Carneiro

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03 de Setembro de 2010  |  www.nazen.tk

DIA INTERNACIONAL DE JERUSALÉM

Jerusalém Histórica – Santuário da Tolerância Religiosa

Jerusalém é uma cidade milenar situada na Região da Palestina. Sua história data períodos anteriores a quatro séculos do nascimento de Jesus. Sua importância religiosa e espiritual faz dela sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, pois também abriga os mais importantes templos das três religiões.

Esta convivência pacífica entre crentes das três grandes religiões monoteístas, fez da cidade, por muito tempo, exemplo e símbolo da tolerância religiosa baseada no respeito mútuo.

Jerusalem: pluralidade religiosa

By Nasser Al-Ja'afari for al Quds, Sep 18th 2006


Jerusalém Contemporânea – A Mancha Pós-Segunda Guerra

Com o término da Segunda Guerra Mundial, as ‘potências’ vitoriosas colocaram em prática seus planos de partilha e dominação do mundo. Utilizando-se de diversos instrumentos, meios, caras, cores e formas, desde os mais rígidos golpes militares perpetrados por seus agentes secretos, passando por criminalização dos movimentos populares e seus lideres,  através do bombardeio midiático, e ainda invasões militares a outros países, inclusive cometendo genocídios.

Dentre todas suas formas, uma peculiar: a criação de um Estado, Aliado Incondicional, no Oriente Médio.


Criação de um Estado? Pois é, assim se procedeu:

1 – Local escolhido: Palestina. Uma região estrategicamente localizada entre o Norte da África, Sudoeste da Ásia, Leste Europeu e com saída para o Mar Mediterrâneo.

2 – Forma escolhida: expulsão e expropriação da população local combinadas com uma aprovação de cartas marcadas na ONU. Assim se buscava a ‘legitimidade’ internacional enquanto se iniciava o processo de expulsão sistemática da população palestina, seguida de mortes, barbáries, destruições e assassinatos, o que chamamos de limpeza étnica por meio da disseminação do terror.

3- Justificativa: se estabeleceria um lar para os judeus, os quais foram vítimas do nazismo. Uma sutil observação: lembrando que havia muitos judeus na época convivendo pacificamente com muçulmanos e cristãos palestinos na região, sempre nas condições de irmandade histórica que prevalecia, então por que o uso agora indiscriminado da força e da violência contra a população civil palestina? Por que tantas mortes e expulsões? Por que os palestinos teriam que pagar pelo crime dos nazistas? Por que tornar a Cidade Sagrada de Jesus em um palco de guerra e de sangue?

4- Nome escolhido: Israel. Com a finalidade de camuflar a barbárie, tenta-se confundir e difundir a idéia de que Israel (o ‘Estado’) teria uma relação com o povo de Israel citado na Bíblia. Tenta-se, desta maneira e do mesmo modo, retratar falsamente o ‘Estado Sionista de Israel’ como um Estado Judaico, na tentativa de esconder suas barbáries sob a máscara da religião.

Porém é óbvia a diferença entre o Judaísmo, que consiste numa nobre religião que nada tem a ver com as práticas de tal ‘Estado’, e o Sionismo, que consiste na ideologia política que fundamenta tal ‘Estado’ e prega a superioridade racial e a utilização de todos os meios para atingir seus objetivos.

Desta infeliz forma, a religião, a espiritualidade, a liberdade e a tolerância características do lugar, passam a ser sufocados pelos interesses das grandes potências através da política de seu Estado Fantoche, o ‘Estado de Israel’.


Jerusalém – E a opressão pela ótica das religiões

Todas as religiões monoteístas em questão condenam e rejeitam todo tipo de opressão e injustiça. Portanto aquele que comete injustiça ou opressão e se diz religioso, se contradiz e distorce o significado e os objetivos da religião.

Referente ao Judaísmo encontra-se no quinto mandamento: – Não matarás! Está aí um sinal claro da opinião da religião judaica a respeito da matança por seus seguidores. Uma proibição transparente e objetiva que nos permite concluir com tamanha certeza que, de acordo com o pensamento judaico, quem incorre em tais práticas não é um seguidor da palavra de Deus.

No ensinamento cristão os exemplos são inúmeros, porém torna-se suficiente o simples conhecimento que temos do caráter de Jesus, conhecido como o Profeta do Amor, o Profeta da Compaixão e da Piedade.

No Islã ocorre o mesmo. Tolerância, respeito e aceitação do próximo ficam evidentes em inúmeros versículos do Alcorão. Como no capítulo 49 versículo 13: “Não existe imposição quanto a religião”.  E a oposição a opressão fica claro, por exemplo, no dito do Profeta Mohammad: “Aquele que andou com um tirano e colaborou com ele, sabendo que ele é um opressor, notoriamente, se afastou da religião”.

O Dia Internacional de Jerusalém

Neste contexto, pós-Segunda Guerra de partilha do mundo, inicia-se também movimentos de libertação populares. Levantes de estudantes, trabalhadores, intelectuais, campesinos e demais começam a tomar conta nos países em que a ditadura existe. Movimentos de resistência se iniciam em países que sofrem invasões e imposições de guerras.

Sob tal realidade geopolítica é que em 1979 triunfa a Revolução Islâmica no Irã, uma revolução popular contra a monarquia ditatorial vigente, submissa às potências e governada pelo monarca Xá Reza Pahlevi. Este evento é de extrema importância para compreendermos o Dia Internacional de Jerusalém.

Logo da revolução, um referendo aprova a nova Constituição e o Irã passa ser a República Islâmica do Irã, com eleições periódicas a presidente e ao parlamento. O grande líder da revolução, o Ayatollah Khomeini, permanece como líder supremo e guardião dos princípios e ideais da Revolução Islâmica.

Khomeini sabia da importância e da influência que a Revolução no país persa – de mais de 60 milhões de habitantes – teria no cenário internacional. Assim como sabia que fundamental seria preservar os princípios da justiça que permeiam o Islã e que estiveram presentes em todo o processo revolucionário.

Ciente também do sofrimento dos palestinos na Terra Santa, Khomeini declara O Dia Internacional de Jerusalém, na última sexta-feira do Sagrado mês do Ramadan. Pois considerava a causa palestina uma questão internacional e o sofrimento de seu povo símbolo da opressão de todos os povos. Assim como considerava o desrespeito a Jerusalém Histórica um golpe baixo contra a tolerância religiosa.

Neste ano o Dia Internacional de Jerusalém ocorre no dia 3 de Setembro. Neste dia, manifestações pacíficas ocorrem em vários países do mundo e a crescente adesão faz com que o Dia Internacional de Jerusalém se estabeleça como uma data oficial de apoio a libertação da Cidade Sagrada e seu povo.

Nós como humanistas, religiosos ou não, temos o dever de sermos solidários a Causa Palestina. Assim, manteremos acesa a chama da esperança de termos novamente um dia o renascimento da Jerusalém Histórica, a Jerusalém da tolerância e do respeito mútuo, na predominância da mais ampla Paz.

* Adnan A. El Sayed é economista pela Universidade Federal Paraná e Pesquisador de Geopolítica Internacional.
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01/09/2010 – 16h04

Israel, força e parceria

Se o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu pudesse ser absolutamente sincero, responderia com um sonoro “não” à pergunta que os dirigentes palestinos estão lançando em campanha milionária na mídia. Os palestinos juram que são “parceiros” de Israel na busca da paz e perguntam: “E vocês?”.

É óbvio que, salvo um punhado de anormais de um lado e do outro, todo o mundo quer a paz. Mas está claro que o governo e a maioria da opinião pública israelense querem a paz pela via da submissão dos palestinos, não pela parceria.

É esse o espírito que cerca o jantar desta quarta-feira em Washington que relança as negociações diretas entre as partes, após quase dois anos de completa hibernação.

Em tese, o diálogo deve resolver quatro questões, uma mais complexa que a outra:

1 – O destino de Jerusalém, ou seja, se será a capital una e indivisível de Israel, como querem os israelenses desde sempre, ou se a parte oriental da mítica cidade será a capital de um futuro Estado palestino.

2 – O direito de retorno dos refugiados palestinos que deixaram suas terras nas sucessivas guerras.

3 – As fronteiras do Estado palestino.

4 – A segurança de Israel.

Os três primeiros pontos dependem exclusivamente de Israel, ocupante de toda Jerusalém e dos territórios palestinos (exceto a Faixa de Gaza). Por extensão, significa que as fronteiras do Estado palestino serão estabelecidas em função de quanto território Israel decidir entregar aos palestinos.

Não obstante, as autoridades israelenses chegam para o jantar enfatizando apenas o ponto 4, a segurança do Estado judeu. É absolutamente legítimo e decisivo, mas não está ao alcance de Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina.

Abbas não controla a Faixa de Gaza, que hoje é o único foco significativo de terrorismo contra Israel, depois que foi construído o muro que isola (e invade) os territórios palestinos e depois que o primeiro-ministro Salam Fayad conseguiu montar um aparato governamental minimamente razoável na Cisjordânia, incluindo um controle igualmente razoável sobre a segurança.

Enquanto Netanyahu pede o que o interlocutor não pode entregar, os palestinos pedem o que Netanyahu não está disposto a dar: o fim da ocupação ilegal dos territórios palestinos, incluindo Jerusalém Oriental.

O governo israelense não parece disposto a ceder nem mesmo num ponto preliminar: o fim das construções nos assentamentos já existentes na Cisjordânia, onde vivem 2,5 milhões de palestinos. Ou seja, em vez de pôr fim a uma ocupação que as Nações Unidas consideram ilegal, os israelenses emitem todos os sinais de que pretendem ampliá-la.

Até dá para entender a lógica israelense, o que não significa aprová-la: foi pela criação, à força, de fatos sobre o terreno que Israel expandiu seu território e assegurou um nível de segurança satisfatório na prática cotidiana, embora institucionalmente precário enquanto não houver um acordo com os palestinos que, por sua vez, abra o caminho para a paz com o mundo árabe.

Tudo somado, a musculatura com a qual cada lado se apresenta em Washington é muito diferente, o que predispõe o mais forte (Israel) a ter pouca disposição para a parceria que os palestinos cobram dos israelenses.

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Clóvis RossiClóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano.

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Sobre

Blog @ nazen.tk

“Comentários islamofóbicos, anti-semitas e anti-árabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes” (*)

O comunicador e ativista político, Nazen Carneiro, formado em Relações Públicas pela Universidade Federal do Paraná, foi correspondente internacional temporário de “Gazeta do Povo” em Teerã, no Irã. Já fez reportagens do Irã, Romênia, Turquia e Grécia, escrevendo sobre a relação do Oriente Médio com o mundo.

Tendo passado pelo Rádio, atua também como ativista cultural e produtor independente do evento mundial pela paz, Earthdance.

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