De rima rica e linguagem perfeita, este poema, feito por Sidônio Muralha durante exílio no Brasil, varia o peso conforme a idéia do leitor
Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se caráter custa caro
Pago o preço.
Pago embora seja raro.
Mas homem não tem avesso
E o peso da pedra eu comparo
À força do arremesso.
Um rio, só se for claro.
Correr sim, mas sem tropeço.
Mas se tropeçar não paro
Não paro nem mereço.
E que ninguém me dê amparo
Nem me pergunte se padeço.
Não sou nem serei avaro
Se caráter custa caro
Pago o preço
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Sidónio Muralha, aqui citado. Do movimento neorrealista, em conjunto com Armindo Rodrigues, foi uma das figuras de maior importância. O autor também militou na oposição ao regime ditatorial de Salazar, em Portugal. Entre suas principais obras estão Beco (1941), Passagem de Nível (1942), e Companheiro dos Homens (1950). Vale a leitura.